Por Marcio Claesen
Intérprete de um ator transformista na supersérie Onde Nascem os Fortes, Jesuita Barbosa falou sobre sexualidade em recente entrevista e chamou de 'burro' quem continua questionando se ele é gay.
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Na trama, que estreou na segunda-feira 23 na TV Globo, Jesuita durante o dia é Ramirinho, herdeiro e filho do juiz (Fabio Assunção) e à noite traveste-se para fazer shows em uma boate como Shakira do Sertão.
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"Vejo Shakira como uma ninfa ou uma deusa grega que está à margem naquele sertão", disse ao O Globo. "O personagem leva uma vida dupla por precisar se esconder do pai e da sociedade preconceituosa. E, por mais que saiba que pode ser descoberto, se apresenta como Shakira. Há uma força motriz que o leva para aquele lugar, uma necessidade de investigar sua 'travestilidade'. Foi a forma que encontrou para entender sua identidade. Em casa não tem a mesma liberdade."
O ator reclamou dos rótulos que a sociedade coloca. "Em geral, as pessoas ficam presas nesse papo de se é gay, se não é gay", comentou. "Essa coisa do que é ou não é constrange."
Quando questionado sobre os momentos em que sua própria sexualidade é o foco das perguntas, Jesuita usou a perigosa palavara "ditadura" que tentaria enquadrá-lo em certos lugares. "As pessoas que me perguntam isso têm necessidade de rotular. É um lugar desconfortável e pouco inteligente. Elas precisam entender que são perguntas insuportáveis e burras, uma encheção de saco".
Jesuíta não parece tem orgulho de ser LGBT - em entrevista à Veja em agosto passado, ele assumiu-se bissexual - já que não percebe que, sim, é importante que haja gays, lésbicas e bissexuais assumidos na TV para que sirvam de modelos a milhões de jovens com as mesmas orientações sexuais e que isso diminua o "peso" que essas crianças, adolescentes e jovens adultos carregam por serem diferentes do padrão heterossexual.
Ao O Globo o ator fala que seu novo personagem tentar romper a barreira imposta pela família, "uma informação heteronormativa". Ok, mas e na vida real? O que o ator faz para que esses obstáculos sejam superados?
Que fique claro: ninguém é obrigado a se declarar gay, lésbica ou bissexual. Isso é um ato de coragem que poucos nas artes suportam o ônus de carregar. E digo nas artes porque é um dos meios onde homo e bissexuais chegam a ser metade em relação a héteros e continuamos a contar nos dedos os atores globais ou de Hollywood que abriram a porta do armário.
Mas Jesuita já saiu dele. E ainda assim insiste em afastar a sexualidade das questões. Por que a grande maioria de atores héteros não teme falar (ao menos superficialmente) do casamento ou dos filhos? Por que não falam de rótulos? Dizer "não gosto de rótulos" já virou quase uma senha para sacarmos que tal ator é gay ou lésbica enrustido.
Algumas celebridades LGBT parecem sair do armário com um esforço muito grande e é como se dissessem "falei uma vez e agora não toquem mais no assunto, não quero levantar bandeiras". Algumas chegam a declarar literalmente isso.
Famosos são pessoas públicas e é natural que o projeto de terem filhos, o rompimento do último relacionamento ou a aliança no dedo sejam questões em entrevistas - seja para héteros ou gays. É verdade que alguns héteros, como Wagner Moura, se fecham totalmente para quaisquer questões como essa, mas eles são minoria. Grande parte dos héteros pode não querer ir para a ilha de Caras mas trata numa boa uma questão ou outra sobre sua vida pessoal. Por que gays e bissexuais não?
Para se usar uma expressão do momento, dá um "ranço" absurdo toda que vez Jesuita abre a boca em entrevistas. Nas telas, o ator evoca a diva colombiana Shakira. Na vida real, ele podia inspirar-se em alguém que está muito mais perto: Bruna Linzmeyer, que, uma vez assumida, entendeu seu papel na sociedade e só nos enche de orgulho.