Amor puro: casal gay mineiro comemora 25 anos de relacionamento

Ativistas, Marco Trajano e Oswaldo Braga celebram bodas de prata e falam sobre sua história ao 'Guia Gay BH'

Publicado em 01/01/2017
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Os 25 anos que separam as fotos são os 25 anos que uniram os dois em uma forte relação de amor. Imagem: Arquivo pessoal

Comemorar no 1º de janeiro um novo ano de esperança é pouco para os mineiros Oswaldo Braga, jornalista de 58 anos, e Marco Trajano, administrador de 53 anos (nas fotos acima, de óculos escuro). Para eles, a data é também momento de celebrar mais um ano de amor, vida em comum e cumplicidade! E a data em 2017 é ainda mais especial: chegaram às bodas de prata! Isso mesmo, 25 anos! 

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Completar anos é pouco! As falas de ambos mostram que eles é que se complementam. 

"Ver meu marido hoje - cúmplice, companheiro, me apoiando, se preocupando comigo, torcendo por mim e fazendo parte de cada momento da minha vida - me faz recordar nossos momentos de romance, nossas brigas, nossas superações e entender que minha vida não faz sentido sem sua presença a meu lado. Vale à pena investir no amor", explica Braga ao Guia Gay BH.

Do outro lado, mais sentimentos bons. "Sinto segurança. Um amor que vai além da questão sexual. Hoje, Oswaldo, além de ser meu homem, é um amigo com quem eu posso contar, é a minha família, e na qual não há medo, vergonha ou receio. Qualquer que seja a situação, haverá uma saída que nos manterá juntos! Sempre!"

O início
O começo dessa história aconteceu na antiga boate Fashion, em BH. E você, conheceu alguém na festa de Réveillon? Bom, veja se vai continuar. Se tiver um pouquinho da intensidade do que ocorreu com os dois, algo a mais pode vir.

"Marquinho foi passar a data com amigos em BH e nos encontramos na festa. A princípio, entendemos que seria uma 'ficada', mas a noite foi muito intensa e nunca mais nos separamos."

Parece que nenhuma queima de fogos de artíficio foi mais bela do que cada um viu no outro nessa noite. Oswaldo assume: "Marquinho sempre foi um cara atraente, charmoso e bonito. Estava dançando quando o vi pela primeira vez e me aproximei. Sorria, se divertindo com a noite e retribuiu às minhas investidas. Descobri depois que era romântico, sensível e cheio de sonhos, como eu."

O encanto foi recíproco. "O que me atraiu nele foi o porte alto, ele ser magro, ter postura firme, elegante. Depois, o beijo firmou o resto", entrega Marco.

A relação foi tão forte que resistiu à distância. Oswaldo morava em BH e Marco em Juiz de Fora. Os encontros ocorriam apenas de 15 em 15 dias, em viagens. A casa única só veio em 1999, ou seja, depois de cinco anos e após período de dois anos em que Oswaldo morou em Londres.

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Amor e ativismo: "Vimos que deveríamos lutar não só pelo nosso direito, mas pelo de todos"

Ser gay. Ser ativista.
Lembrar o início da relação também é recordar como cada um vivia e encarava a própria homossexualidade, diz Oswaldo. "A família do Marquinho, já acostumada a conviver com sua homossexualidade, não teve dificuldades em me dar as boas vindas e logo eu estava enturmado e bem recebido. Minha família, quando foi comunicada, quase dez anos depois, custou a recebê-lo, mas quando o fez, o recebeu com carinho e hoje o tem em alta conta, como um membro da família."

E "serem gays' não bastou para eles! Para quem não sabe, o casal escreveu o nome dele no ativismo LGBT não só de Juiz de Fora, onde moram, de Minas, mas também do Brasil. À frente do Movimento Gay de Minas (MGM), foram maestros fundamentais na abertura da cidade à cidadania LGBT, que ficou famosa por lei - chamada rosa - que penaliza a homofobia e foi modelo para várias outras pelo país, e por conta do Rainbow Fest, evento que acompanhava o Miss Gay Brasil.

Amor por cada um e pelo trabalho em nome da cidadania foi algo fundamental da relação que travaram, diz Marco. "O ativismo surge como consequência da indignação que a não aceitação do nosso amor provocava. Percebemos que não eramos nós que estávamos errados e sim o mundo que não nos aceitava. Não víamos motivos para não assumirmos e vivermos o nosso amor e concluímos que deveríamos lutar não só pelo nosso direito, mas o de todos que viviam situações como a nossa."

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Foto de 1999, quando passaram a morar juntos, em Juiz de Fora

Futuro
Como já se viu, os desafios nessa caminhada conjunta foram grandes, mas um que se destaca é algo que casais heterossexuais podem não sentir, mas que pares homosssexuais vivem.

"O maior desafio pelo qual passamos foi nos despirmos do formato das relações heterossexuais e construirmos uma relação de casal que passa longe do tradicional 'macho x fêmea', como fomos educados. Respeitar o outro como um igual, com desejos iguais, fantasias iguais e limitações iguais. Aprender a não hierarquizar a relação e compartilhar fraquezas e virtudes; superar as adversidades; sorrir juntos e chorar juntos", elabora Oswaldo. Em tempo: a relação dos dois é, como definem, "fechada para novos amores".

E o amor que construiu os 25 anos já se projeta. Oswaldo faz votos por mais tranquilidade. "Para o futuro, espero que tenhamos menos dificuldades e possamos usufruir mais da nossa família e do nosso pouco tempo juntos."

Marco já imagina um casal de velhinhos felizes por terem encontrado quem faz o outro feliz. "Imagino, claro, nós juntos em um lugar grande, com jardim, quintal, plantas e nossos cachorros e gatos. Um velhice tranquila e confortável, sem luxos, mas bacana."

Enfim, prata é pouco para os dois!


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