Há uma semana, o grupo extremista Talibã retomou o controle do Afeganistão e a violência com que gays são tratados por lá voltou a ser notícia no mundo.
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O fato deu visibilidade inclusive à prática desumana do "bacha bazi" (ou "brincadeira com garotos").
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Trata-se do sequestro, estupro e escravização de crianças e adolescentes gays e héteros por homens, sobretudo, ricos ou de alta patente militar.
Ainda que a prática seja condenada por entidades internacionais de direitos humanos, ela persiste há decadas no Afeganistão.
Os meninos e jovens "bacha bazi" são geralmente pobres e vendidos pelos pais para vestir roupas de mulher, se maquiar e aprender a dançar para homens poderosos em festas.
Depois dos eventos, eles são levados para locais, inclusive hotéis, para serem estuprados por um ou vários homens.
Somente no período em que o Talibã governou o país, entre 1996 e 2001, este tipo de atividade foi banido. Para quem praticasse, a condenação era a mesma para homossexuais - a morte.
Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) firmou acordo com o país para que a prática fosse banida, mas ela permaneceu.
Quando parentes das vítimas denunciavam à polícia, em geral, nada acontecia, já que os praticantes eram soldados e oficiais do Exército ou civis com grande poder.
Em 2010, o crime foi alvo de um documentário, The Dancing Boys os Afghanistan, que sete anos depois inspirou um musical off-Broadway, The Boy Who Danced on Air ("O garoto que dançava no ar", em tradução livre).
Outro documentário, este de 2013, também abordou o assunto. Em This Is What Winning Looks Like ("Isso é o que parece ganhar), o cineasta britânico Ben Anderson conversa com militares norte-americanos que falam como é difícil trabalhar com a polícia afegã por conta dos abusos dos jovens locais.
Em certo momento, um oficial de alta patente diz que tudo ali é consensual e que os meninos "gostam de estar lá e dar o c* à noite". Ele questiona: "Se [meus comandantes] não f*dem a bunda desses meninos, o que eles deveriam comer? As b*cetas das próprias avós?"
Segundo o The New York Times, norma dos Estados Unidos exigia que a prática fosse banida para que a ajuda ao país continuasse, mas ela jamais foi encerrada.
Essa prática se soma ao medo agora do novo governo no país.
A punição a homossexuais, de acordo com a forma radical da Lei da Sharia, seguida pelo Talibã, é apedrejá-los até à morte ou derrubar um muro de até três metros em cima deles.
Desde 2001, quando os Estados Unidos invadiram o país e afastaram o grupo do poder, não houve relato na imprensa de condenação à morte.