Bi! Bissexual e bilheteira do metrô de BH! E não só! Iza Lourença, que tenta vaga na Câmara Municipal de BH pelo Psol, tem histórico de luta social e política.
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"Fui do movimento estudantil e do DCE da UFMG, ocupei a Câmara Municipal em 2013. Já fundei coletivo feminista, participei das manifestações LGBT+ e da luta por implementação das cotas raciais", exemplifica.
Em uma de suas últimas ações, ela atuou em projeto para distribuir absorventes íntimos para jovens pobres. E ela quer continuar a trabalhar para mudar a sociedade.
Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris da capital?
A presença de corpos LGBTI+ nos espaços de poder representam avanço importante para a nossa cidadania. Sou bissexual e sei das dificuldades que vivemos para exercer nossa liberdade em Belo Horizonte. Nosso mandato será uma trincheira antiLGBTfóbica na Câmara Municipal.
Temos várias propostas para avançar nesse tema, tais como lutar pela construção de casas abrigo para LGBT+ em situação de violência; formação em direitos humanos para a Guarda Municipal, capacitando profissionais no combate à violência e atendimento a pessoas LGBT+ vítimas de violência; promover políticas públicas de formação profissional, emprego e renda para pessoas trans e não-binárias.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Psol. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
O Psol é totalmente comprometido com as pautas LGBT. Nessa eleições, o Psol teve uma politica especial de valorização dessas candidaturas através da distribuição de um valor 15% maior do fundo partido para candidaturas LGBT.
Além disso, nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional, o Psol é o partido que, em diálogo com os movimentos, mais pauta e tem projeto de leis para a população LGBTI+.
Temos um Setorial Nacional LGBTI+ que elabora permanentemente nosso programa e reflete as principais demandas relacionadas ao tema.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas a população de Belo Horizonte?
Como mulher negra e recém mãe de uma bebê de 11 meses, aponto a necessidade de termos mais mulheres negras nos espaços de poder.
Sabemos que os mesmos partidos e vereadores estão há muito tempo no poder atacando nossos direitos e nossas vidas. Nós que somos a maioria da população, que fazemos a cidade funcionar, somos quem realmente têm que decidir os rumos da cidade.
Outra pauta que trazemos é a necessidade de debater a violência policial contra a juventude negra periférica.
Nas periferias, o Estado chega somente através da polícia e da repressão. Essa juventude tem que ter direito a cultura, lazer, educação de qualidade perto de suas casas.
Proponho a descentralização dos recursos para que a periferia seja o centro das politicas publicas e, assim, possamos diminuir os números da violência.
Por último, tivemos importante experiência durante a pandemia em uma campanha de solidariedade que fiz parte – BH fica em Casa – que demonstrou a importância de debater a pobreza menstrual.
Muitas jovens nas periferias não têm condições de comprar absorventes, gerando abandono escolar e diversas consequências para as mesmas.
Fizemos a distribuição de absorventes e itens de higiene pessoal na região do Barreiro por meio dessa campanha de solidariedade e estamos propondo que isso vire uma política pública de BH.
Você defende o marxismo, ideologia que é rechaçada de forma geral no Brasil tendo em vista a baixa votação de quem a defende. Qual sua estratégia para convencer as pessoas para aderir ao marxismo?
O mundo capitalista hoje é dividido entre pouquíssimas pessoas (1% - donos de grandes corporações, bilionários) que desfrutam das riquezas produzidas pela sociedade, e a grande maioria da população (99%) que muitas das vezes não tem o mínimo para sobreviver.
E são esses 99% que realmente produzem as riquezas, garantem o funcionamento da cidade, dos serviços públicos, da educação, dos hospitais etc.
São as mulheres, as pessoas negras e as LGBTI+ que estão na linha de frente do funcionamento da nossa sociedade.
O que propomos é bastante simples: que os 99% da população possam ser parte das decisões políticas e ter acesso ao que é produzido.
Hoje o sistema politico é totalmente dominado pelo poder financeiro, e por isso o Estado é voltado para o interesse dessa minoria, que no nosso país, são os mesmo herdeiros da casa grande que escravizaram nossos ancestrais.
Estamos no século XXI e vivemos problemas básicos de segurança alimentar, saneamento básico, falta de moradia.
Nosso papel é demonstrar para a população a origem desses problemas e porque precisamos de uma mudança global no sistema politico e econômico.
Tudo isso a partir das diversas demandas que as pessoas têm no seu cotidiano.
Por exemplo: para se combater a falta de moradia é necessário enfrentar a especulação imobiliária, que é feita pelos bilionários donos de construtoras no nosso país.
Você denuncia o fato de não haver nenhuma pessoa negra com mandado na Câmara Municipal de BH. Por que o eleitorado negro e não-negro não vota em pessoas negras?
O racismo no Brasil tem características próprias. O mito da democracia racial (que é o mito de que não existe racismo no Brasil, já que seriamos um povo miscigenado) está introjetado na nossa sociedade há mais de um século.
Isso fez com que durante muito tempo esse tema não fosse pautado na política. Mas vejo avanços nesse processo.
Em 2016, elegemos em BH uma mulher negra (Áurea Carolina – que atualmente é deputada federal) como a vereadora mais votada da história da cidade. E assim também ocorreu em várias cidades do país, se ampliando em 2018.
Por isso estamos com muita força nessa campanha também para garantir que tenhamos novamente uma mulher negra na Câmara Municipal de BH e acredito que vamos conseguir.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay BH de entrevistar candidaturas LGBT à Câmara Municipal da cidade.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.