O calendário brasileiro de paradas, feito pelo Guia Gay, revela como há várias formas de celebrar a diversidade de orientação sexual e identidade de gênero no País.
Há eventos em janeiro, de bairro, gigantescos, que ficam literalmente parados, feitos no sábado, no domingo... Algo tão diverso quanto um compilado de restaurantes de São Paulo ou o Bacana, site de guias de apostas.
Dentre tanta pluralidade há um que oferece experência rara: que tal ir a uma parada que começa em um país e, no trajeto, passa por outro?
É o que você pode viver na Parada Binacional da Diversidade, que tem início na cidade de Rivera, no Uruguai, e que passa pela gaúcha Santana do Livramento, no Brasil.
Como isso é possível? Algo bem simples e surpreendente para quem não vive na fronteira do Brasil: as duas cidades, os dois países são divididos por uma avenida: a João Goulart, na parte brasileira, e a 33 Orientales, no lado platino.
A origem das duas cidades vem da defesa de fronteira. Cada país colocou postos para proteger o território. Ao redor deles, pessoas começaram a se fixar...
Com o tempo, surgiu até um dialeto, o chamado portunhol fronteiriço, mistura dos dois idiomas. E não estranhe conversa em que uma pessoa fala espanhol e a outra responde em português.
E o Vale aproveita tudo isso para mostrar muito orgulho y mucho orgullo!
Neste ano, em 22 de setembro, fez-se a sétima edição da marcha, que é organizada pela ONG Colectivo Riversidad ATRU Rivera.
Fundador do grupo e atual presidente, Sebastián Güida revelou ao Guia Gay que a soma Uruguai e Brasil está no DNA do que fazem.
"No coletivo há 6 brasileiros e 10 uruguaios, e a maioria tem dupla nacionalidade. Então é um grupo binacional na composição que atua nos dois países e faz a parada também com essa proposta."
Nessa caminhada, conquistas se acumulam, explica o ativista.
"Conseguimos em 2024 que a prefeitura de Santana do Livramento decretasse setembro como Mês da Diversidade, o que já era feito em Rivera. Isso é algo de grande coragem porque setembro também é o Mês Farroupilha."
Como a entidade se mantém e consegue fazer a marcha, que reúne cerca de 2.500 pessoas a cada ano? A resposta mostra o quanto o Poder Público uruguaio está mais próximo do movimento LGBT do que o brasileiro.
"A parada é oficialmente apoiada pela prefeitura de Rivera e conseguimos que a marcha fosse declarada de interesse turístico pelo Ministério do Turismo. Isso resolve alguns dos custos. Também conseguimos colaboração do Ministério de Desenvolvimento Social do Uruguai. A prefeitura de Livramento colabora com alguma coisa, ano passado bancou o hotel de todos os artistas. E também vamos atrás de sindicatos e empresas. O que é difícil ainda mais no lado brasileiro. Também executamos projetos de financiamento internacional."
Divididos por uma rua... E pelo bolso. O caríssimo (para brasileiros) Uruguai tem renda per capta de 20.800 dólares enquanto o Brasil tem aí 8.900 dólares. Essa diferença faz as compras dos itens da parada em Livramento serem bem mais em conta do que em Rivera.
"Quando não temos que apresentar comprovantes ao governo uruguaio, compramos as coisas no Brasil. As coisas aí são bem mais baratas", explicou Sebastián.
O debate sobre respeito também é platino e brazuca. O tema da marcha neste ano pediu cidadania para a comunidade LGBT da fronteira (nesses termos). O seminário envolveu pessoas e instituições brasileiras e uruguaias.
A marcha evidencia que o arco-íris desconhece limites. A caminhada começa na praça principal de Rivera - que é capital de Estado de mesmo nome -, segue pela rua principal e depois de alguns metros entra em Livramento, no Brasil.
Tem-se então o chamado Parque Internacional, administrado pelos dois lados. Esse ano, havia aí uma escola de samba à espera da parada!
Então vai-se pelas avenida Tamandaré, rua Rivadavia Correia e avenida João Goulart.
Após, volta-se para o Uruguai para fazer o encerramento com shows no Teatro de Verão. em Rivera, que fica bem na linha divisória das duas nações. O passaporte requerido é o orgulho!