Um dos ginastas mais premiados do Brasil, Diego Hypolito finalmente falou abertamente sobre sua sexualidade.
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Após anos de rumores na imprensa e na comunidade gay, o atleta desnudou-se em depoimento ao UOL.
Hoje com 32 anos, Diego revelou que falou sobre isso pela primeira vez com o também ginasta Michel Conceição quando estava com 19 anos.
"O Michel era querido por todos, um cara muito engraçado e popular. E abertamente gay. Por isso me sentir à vontade para me abrir com ele", contou.
Ele disse que estavam no alojamento da seleção brasileira em Curitiba e naquela noite Michel o levou a uma boate gay. Ele voltou a ir a boates, sempre disfarçado.
"Meus amigos livres, leves e soltos e eu lá, cheio de roupas, suando no calor, virando a cara quando alguém fixava o olhar. Eu sempre morri de medo de me descobrirem", disse.
Diego fala que foi criado na igreja e que até hoje frequenta a Bola de Neve. "Eu tinha vergonha porque na minha cabeça ser gay era ser um demônio", relembra.
Como a família tinha se mudado de São Paulo para o Rio de Janeiro para acompanhar ele e e irmã, a ginasta Daniele Hypolito, na carreira esportiva, e todos passavam dificuldades financeiras, o atleta conta que não achava justo levar mais ums questão para eles. Além de serem religiosos e humildes. "Eles nunca entenderiam."
Ao contrário do que muitos pensam, diz Diego, na sua modalidade a maioria dos atletas não é gay e, por isso, ele passou por muitos momentos de solidão, depressão e discriminação.
Mas para conseguir uma medalha, ele avalia, esconder sua sexualidade valia a pena. O medo de perder patrocinadores sempre pairou em sua cabeça.
Há alguns anos, Diego conta que um repórter do UOL o questionou se ele era gay e ele mentiu. Arrependeu-se depois e combinou com sua assessoria de não permitir mais perguntas do tipo.
Com baixa autoestima, o ginasta diz que sua preocupação com a estética era maior do que com a sexualidade. Ele era chamado de "Frankenstein" na ginástica.
Até que começou a namorar um rapaz que ele achava ser bem mais bonito do que ele. O namorado disse que terminaria o relacionamento (que era abusivo) se ele não contasse a sua família que era homossexual.
"Estava me preparando para o Mundial da China, em 2014, quando tomei coragem para contar para a minha mãe. Não tinha coragem de falar por telefone, então, de novo, escrevi uma mensagem. Disse que a amava muito, que esperava que isso não fosse mudar a nossa relação, porque eu continuaria a amando da mesma maneira. Eu era gay. E não um demônio."
A mãe não reagiu bem, ao contrário do pai e da irmã. Daniele afirmou que sempre soube.
"Quero que as pessoas saibam que eu sou gay e que eu não tenho vergonha disso. E não é porque eu sou que outras pessoas vão querer ser. Isso não tem nada a ver. Já vivi muitos anos pensando no julgamento que os outros fariam sobre mim. Hoje só aceito ser julgado por Deus."
Diego acredita que falar sobre isso pode ajudar outros garotos que estejam passando pelo que passou. "Muitos não se aceitam como são ou não são aceitos pela família e têm pensamentos suicidas por não conseguirem corresponder às expectativas dos outros."
E continua: "Esse era o último fantasma que eu precisava espantar de dentro de mim. No ano passado, revelei os abusos que sofri durante trotes que o pessoal da ginástica fazia com quem era mais novo."
"Já me prenderam em um equipamento de treino apelidado de ''caixão da morte', já me fizeram segurar uma pilha com o ânus e já me deixaram pelado, junto com outros dois atletas, para escrever no nosso peito a frase 'Eu', 'sou', 'gay'. Uma palavra em cada um para nos humilhar."
"Eu preciso falar sobre essas coisas para que elas nunca mais se repitam. Ninguém precisa passar pelo que eu passei para ser campeão. Não existe vitória a qualquer custo."
O atleta diz que nunca foi muito sexual, sempre gostou de sair para dançar. "Só namorei duas mulheres e alguns poucos homens na vida. Meu namoro atual é muito mais leve, saudavel."
Ele revela que há alguns dias foi pela primeira vez a uma festa gay, em São Paulo, sem disfarce e sentiu como uma libertação. "Agora penso até em ir à parada gay. Quero frequentar com naturalidade os ambientes que antes frequentava com medo. Não vou levantar nenhuma bandeira, não vou ostentar nada, mas se alguém me perguntar o que eu sou, não preciso mais mentir. Não tenho mais vergonha."
Hoje a mãe o aceita como ele é "Não escolhi ser gay, porque ser gay não é uma escolha. É simplesmente o que eu sou, e isso não vai mudar os valores que eu tenho e que construí junto da minha família."
"Nunca mais vou deixar de viver o que eu sou. Eu sou gay."