Primeira candidata transexual ao Senado no Brasil, Duda Salabert anunciou sua desfiliação do Psol e acusou o partido de "transfobia estrutural".
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"Desde o fim da eleição no ano passado tenho tentado uma ponte com o partido, que me isolou politicamente", contou Duda ao O Globo.
"Não percebi nenhuma tentativa do partido em me manter como quadro e nenhuma manifestação da executiva nacional ou do Estado. Me pareceu que minha desfiliação foi um 'cala a boca' dentro da legenda."
Segundo a professora, a expulsão da ativista Indianara Siqueira, suplente a veredadora no Rio de Janeiro, em 2018, teria sido a ponta do iceberg.
"Além dela ser expulsa, a luta dela foi exposta e criminalizada. Criminalizaram a luta dela por moradia e impediram que ela disputasse a eleição no ano passado. Se o partido divulgar a média dos valores investidos em candidaturas trans e compararmos a média das candidaturas não trans fica clara a transfobia. O valor é ínfimo", denunciou.
Duda afirmou que Ciro Gomes à convidou a entrar para o PDT, mas ela ainda analisa opções e quer focar em seus "projetos de luta social".
"Deixo o Psol por não concordar com a perspectiva antropocêntrica que estrutura o partido. Enquanto vegana, ambientalista e defensora dos direitos dos animais, não posso aceitar que a luta para difundir o respeito às vidas de todos animais fique em segundo plano. Deixo o Psol também por não concordar com algumas diretrizes internas do partido."
Duda conquistou 351.874 para o Senado por Minas Gerais no ano passado em campanha realizada com apenas R$ 15 mil. Ela não descarta a intenção de concorrer à Prefeitura de BH em 2020, como já anunciado em outubro de 2018.
Leia o comunicado sobre sua desfiliação divulgado pela professora em suas redes sociais, no domingo 21:
"Anuncio minha desfiliação do PSOL. Deixo o partido, mas continuo meu ativismo por uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais democrática.
Mantenho vivo também o projeto de colocar no protagonismo político as bandeiras da Educação, do Meio Ambiente e da Diversidade. No atual contexto de crise da democracia, entendo que ocupar a política e disputar as eleições não me é uma escolha, mas uma obrigação.
Colocar meu corpo político no centro do debate eleitoral é mais do que simbólico: é uma maneira de buscar alargar a democracia, a qual nunca foi sólida no país, sobretudo para o grupo social de que faço parte.
Deixo o PSOL por não concordar com a transfobia estrutural do partido. Enquanto mulher transexual, não posso endossar uma estrutura que se apropria da luta e da identidade trans para privilegiar figuras e candidaturas já privilegiadas.
Deixo o PSOL por não concordar com a perspectiva antropocêntrica que estrutura o partido. Enquanto vegana, ambientalista e defensora dos direitos dos animais, não posso aceitar que a luta para difundir o respeito às vidas de todos animais fique em segundo plano.
Deixo o PSOL também por não concordar com algumas diretrizes internas do partido. Entendo que essa decisão pode surpreender muitas pessoas, mas como escreveu Pompeu, político romano, 'Navegar é preciso. Viver é impreciso'.
Agradeço de coração a todas correntes e filiados que me receberam e me construíram politicamente nos últimos dois anos. A crítica que resultou na minha desfiliação não é às pessoas, mas à estrutura partidária. Sigamos em luta, não mais na mesma organização, por um mundo sem desigualdades sociais. A utopia segue viva!"