O amor forma um pai, certo? E o que dizer quando se enfrenta preconceitos, luta-se para ter filhos e tem-se de lidar até com o receio de ser incompreendido pelos próprios pequenos? São esses super pais que são encontrados quando conhecemos histórias de gays que merecem presentes nesse Dia dos Pais.
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Há de tudo: a dúvida sobre quando contar que se é gay, a ex-esposa homofóbica, o avô que não aceita o neto, mas também declarações de amor vinda dos filhos, aceitação geral e, veja as fotos nesta reportagem: o sorriso, a melhor recompensa de tudo, não?
Para o analista de RH Samuel Campos (foto), de 30 anos, o momento de contar ao filho biológico foi aos seis anos do pequeno. "Tratei o assunto aos poucos, com medo de chocar, e de que ele interpretasse de formas que não fosse a correta", contou à nossa reportagem.
"Um dia, em 2015, iniciei um relacionamento sério, e vi que era a hora de abrir o jogo com ele, porque eu não queria que ele fosse vítima de comentários maldosos, e que, acima de tudo, ele tivesse confiança em mim em qualquer aspecto da vida."
A reação, ao fim, foi positiva. "Ele meio que entrou em parafuso, afinal ele tinha seis anos só. Dias depois, ele me ligou e disse: 'Pai, eu te amo e quero te ver feliz'.
"Ele conheceu e teve sempre uma ótima relação de amizade com o meu ex-namorado, sabe aquela coisa de passear, programas de família, restaurantes... Hoje ele tem nove anos e lida muito bem com a minha sexualidade, não se importa com quem eu esteja, e sempre me pergunta se eu estou bem e diz que me ama", conta.
Quem também teve uma boa experiência nesta questão é o técnico de laboratório Kaique Nascimento (foto no topo), de 24 anos, pai de uma menina de cinco anos e um menino de três. "Os dois sabem e levam numa boa. Não tenho problema nenhum na escola, e muito menos em casa", diz.
Já para o empresário Thayles Prioro, 32 anos, há um entrave: a ex-mulher. Ele também tem um filho de nove anos e abriu o jogo há pouco tempo para a criança, que mora com a mãe no em Marília (a 450 Km de São Paulo, onde Thayles vive).
"Ele ficou sabendo há pouco tempo sobre minha sexualidade e a reação dele foi bem tranquila. Acredito que ele vai saber lidar muito bem com isso", explica. A conversa com o filho ocorreu mês passado, após vencer a barreira da ex, com quem ficou casado por sete anos. "Ela é homofóbica e evangélica e não aceita que eu converse com ele sobre minha sexualidade", diz Thayles, que hoje é casado com um homem.
Se as crianças hoje parecem estar levando numa boa, isto não é exclusividade de nossa época. O analista de sistemas Ubirajara Caputo, 57 anos, hoje é pai de uma moça de 21 anos e conversou com a filha quando ela tinha oito. "Ela perguntou se eu era gay, eu disse que sim", revela. "Hoje ela mora comigo, nunca tivemos problema com isso", diz.
E quando os filhos não são biológicos? O militar Fioravante Cardoso, de 47 anos, do Rio de Janeiro, é pai de um menino de um ano e oito meses, que adotou junto com o companheiro em 2015.
Ele diz que até agora não sentiu nenhuma discriminação em hospitais ou escola, ou do Poder Judiciário durante o processo de adoção, mas o mesmo não ocorre na própria família.
"Por incrível que pareça, meu pai fala comigo e com meu companheiro normalmente, mas age como se meu filho não existisse. Nem olha para ele", lamenta.
O casal de promotores de eventos Ricardo Reis, 29 anos, e Leandro Reis, 32, são casados há 12 anos e pais de Fernanda, 11, e Gabriel, 5. Ambas as crianças foram adotadas há quatro anos.
"Não houve necessidade de assumirmos para eles porque já nos conheceram como um casal gay", explica Ricardo. "A Fernanda já era grande e entendia e o Gabriel cresceu vendo, então para ele é algo natural."
A família, de Poá (SP), frequenta uma igreja inclusiva, na qual há vários outros casais homossexuais com filhos, o que atesta a naturalidade de sua relação.
Estamos no Dia dos Pais, mas Ricardo recorda-se de situação ocorrida justamente no Dia das Mães no colégio. "Fomos consultados se as crianças deveriam ou não confeccionar a lembrancinha do Dia das Mães e, se o fizessem, queriam saber a quem endereçar a lembrancinha, se para um de nós ou uma mulher qualquer da familia (avó, tia, madrinha)".
"Eu respondi que podiam, sim, fazer e que a lembrancinha seria para nós dois, afinal acreditamos que ser mãe está muito além de uma genitália feminina, mãe é função e não sexo. Ser mãe é cuidar, dar carinho e atenção. Ser mãe é acordar de madrugada. Ser mãe é enfrentar fila no posto de saúde, ser mãe é ajudar na lição de casa. Portanto, se eu e meu marido fazíamos todo o trabalho de ser mãe também mereceríamos a recompensa. E recebemos duas lembrancinhas, uma para cada pai."