Travesti e bissexual, Espaguete - apelido de Nina Rosa Lía Alves Sobrinho - é a candidata mais jovem, nestas eleições, a disputar uma cadeira no Congresso Nacional em Minas, pelo PCB.
Belo-horizontina, Espaguete está com 21 anos e é estudante de geografia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Vegana, católica e capoeirista (seu apelido veio dessa atividade), a comunista pretende instituir cotas para pessoas trans e travestis em universidades e concursos públicos, desburocratizar o acesso à cirurgia de transgenitalização e construir casas de acolhimento para segmentos tais como as mulheres, crianças e LGBT.
Ao Guia Gay BH, Espaguete falou sobre os principais pontos de sua campanha.
O Brasil é um dos países mais avançados do mundo em direitos LGBT, mas ainda há desafios para a cidadania arco-íris. Quais suas propostas para que o País avance nesse campo?
Gratuidade do processo de retificação do nome e gênero; respeito ao nome social em todos os espaços públicos assegurados na lei e disponibilização dos remédios da terapia hormonal gratuitamente em todos os municípios brasileiros.
Universalização do acesso à Prep/Pep em todos os municípios; educação de sobre sexo, gênero e sexualidade nas escolas de educação básica; cotas para pessoas trans e travestis em universidades e concursos públicos; políticas de permanência estudantil para pessoas trans e travestis desde o ensino regular até a pós-graduação.
Criação de uma legislação específica que assegure na lei o casamento entre pessoas do mesmo sexo; acesso a cirurgias de mudança de genital e cirurgias plásticas e sem burocracias desnecessárias no SUS [Sistema Único de Saúde]; construção de casas de acolhimento, cuidado e capacitação profissional para pessoas vítimas de violência (mulheres, LGBT, adolescentes e crianças); levantamento de dados oficiais sobre a nossa população para fundamentar políticas públicas de qualidade.
Fora a questão LGBT, quais seus projetos para a população brasileira em geral?
Destinamento de verbas para construção de uma infraestrutura de restaurantes populares, lavanderias e creches públicas que deem função social para imóveis ociosos e retire o fardo da dupla jornada de trabalho das mulheres; promover o debate de políticas de desencarceramento, legalização das drogas e desmilitarização das polícias; universalização do acesso à água potável, saneamento e eletricidade em todos os assentamentos humanos, inclusive ocupações urbanas e rurais
Por uma nova lei do piso na educação que contemple todas as pessoas que trabalham na educação; regulamentar o trabalho sexual para combater os casos de escravidão e irregularidades nesse setor, garantindo todos os direitos constitucionais, trabalhistas e previdenciários para profissionais do sexo; fim da Lei Kandir que isenta de ICMS produtos primários para que seja possível reindustrializar o Brasil de forma que mais empregos de qualidade sejam gerados no Brasil.
Lutar pela reestatização da Vale e estatização das mineradoras sob controle dos trabalhadores; fim do autolicenciamento; instituição de uma lei federal dos atingidos pela mineração e reparação integral de toda a população atingida pela mineração.
Em que seu mandato vai se diferenciar em relação ao que se tem na política atualmente?
O mandato de uma travesti comunista militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) tem muito a contribuir para o conjunto da classe trabalhadora. O principal aspecto que diferencia nossa candidatura das outras é o fato que nós nos propomos a superar os espaços institucionais e trazer os trabalhadores para o centro da política. Nesse sentido, pretendo fazer do meu mandato uma grande tribuna das demandas da classe trabalhadora.
Nosso mandato terá lado e não estou me propondo a governar para todos, mas para a emancipação da maioria das pessoas que trabalham e que o 1% que explora e gera esse sistema de exploração onde quanto mais pobre o povo mais ricos são os burgueses e mais feliz ficam os Estados Unidos tenha cada vez menos poder político rumo ao poder popular.
Cada lei aprovada, medida e mobilização que fizermos será através da mobilização popular. Até porque quem pretende fazer para o povo não pode fazer isso sem o povo, ainda mais em um espaço como o Congresso Nacional que já sabemos que está fechado com os interesses dos grandes empresários. Nesse sentido seria muito cínico e ingênuo pensar em governabilidade sem as massas. Se os outros candidatos têm "rabo preso" com empresários que financiam suas campanhas ou seus partidos, nós do Partido Comunista Brasileiro só temos compromisso com o avanço da luta revolucionária em nosso país e no mundo.
Essa entrevista faz parte de série do Guia Gay BH com candidaturas de pessoas LGBT. O objetivo é dar visibilidade as suas propostas de forma a colaborar com a decisão do segmento arco-íris e simpatizantes na hora do voto.