Enquanto empresas, times de futebol, profissionais liberais e até alguns coletivos LGBT celebravam um tal de 25 de Março - Dia Nacional do Orgulho Gay, nos grupos de whatsapp e em ligações dentre grande parte de ativistas a pergunta era a mesma hoje: "De onde vem essa data? Quem criou? Qual a justificativa?".
Nas redes sociais, mesmo sendo sem existência fundamentada, a data também foi alvo de cooptação por outros segmentos tal como ocorre a qualquer referência que trate especificamente a gays: foi considerada como de todas identidades arco-íris e transformou-se em Dia Nacional do Orgulho LGBTQIAP+, dentre outras variantes.
Entretanto, a informação mais fundamentada é que tanto a celebração, que tem se repetido nos últimos anos, quanto a sanha de não permitir gays terem suas expressões históricas próprias ocorreram em cima de uma fake news, ou melhor, de algo como um fake holiday.
O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, um dos mais longevos e importantes ativistas gays do Brasil, afirmou não ter ideia do motivo para o dia da comemoração.
Nossa reportagem falou com a agência de comunicação Revelare, responsável pelo página Datas Comemorativas, uma das quais incluem em extensa lista de efemérides a suposta celebração homossexual.
Como justificativa para essa inclusão, foi dito que em 25 de março de 2002 foi aprovado projeto de lei que instituía o 28 de junho como Dia Nacional do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
A pesquisa em importantes livros sobre o movimento LGBT nacional dá resultado nulo. Na internet, há apenas registro do Dia Nacional do Orgulho Gay sem nenhuma explicação ou até com desinformação, com referências, por exemplo, à Revolta de Stonewall, que ocorreu em junho de 1969 e é base para o Dia Internacional do Orgulho LGBT.
Outra teoria veio da Rede Família Stronger, que, em post nesta quinta, defendeu a data vir do início da campanha do Grupo Gay da Bahia pela despatologização da homossexualidade junto ao Conselho Federal de Medicina.
A postagem no Instagram fala inclusive que a data teria nascido já em 25 de março de 1981, algo que contraria todos registros históricos do movimento homossexual e LGBT, que não dão conta de nenhuma efeméride específica arco-íris criada nessa época no Brasil.
Ao ser perguntado sobre tal fato, o antrópologo Luiz Mott, presidente da entidade baiana na data, disse desconhecer existir tal dia exato no trabalho liderado por ele.
"Eu pesquisei todos os exemplares do boletim do GGB e não encontrei a data 25 de Março de 1981 como início da campanha pela despatologização do homossexualismo. Em outubro de 1981, efetivamente, entregamos uma carta em mãos do ministro da Saúde em visita à Bahia e na qual exigimos a retirada do parágrafo 302. Seria questão de consultar quem divulgou a data exata 25 de março de 1981 como início da campanha. Que diga onde encontrou essa informação, pois eu gostaria de recuperá-la."
A retirada da homossexualidade do rol de doenças no Brasil foi obtida em 1985, cinco anos de a Organização Mundial de Saúde fazer o mesmo. Contra fake news, o remédio ainda é fonte séria!