Por Marcio Claesen
O que afinal faz um homem se montar de drag? Essa é uma das principais questões pelas quais perpassa O Ritmo da Vida, filme que estreou nos cinemas nesta semana.
Escrita e dirigida pelo canadense Phil Connell, em sua estreia em longas, a produção foca em Russell (o novato Thomas Duplessie), que é formado ator e há dois anos se apresenta como drag queen em boates gays.
Ele tem (ou tinha) um relacionamento estável com Justin (Andrew Bushell), que no começo da história o impõe uma escolha: ou ele volta a fazer audições para papéis "sérios" ou o casamento ficaria insustentável.
Russell decide, então, partir para uma nova vida longe de Justin e, no caminho, em uma pequena cidade do interior, passa para ver a avó.
Margaret (Cloris Leachman) vive sozinha numa casa grande e confortável e apresenta sinais de demência.
A relação entre um jovem e uma idosa já foi explorada diversas vezes no cinema (Ensina-me a Viver, 1971, é um dos exemplos) e se torna a parte mais saborosa do longa.
Apesar de confusa, às vezes, Margaret é perspicaz e dona de um humor fino. Focasse mais na relação dos dois, No Ritmo da Vida só teria a ganhar.
Mas o longa, afinal, se propõe a falar das frustrações de um ator que se descobriu como drag e que está em busca de uma nova história, um recomeço.
No único bar local frequentado por LGBT, Russell provoca a audiência com sua personagem - Fishy Falters - e começa a se envolver com o garçom.
A trilha - com Robyn, Scissor Sisters e London Grammar, dentre outros - é ótima e nas performances dá para entender o porquê de Duplessie ter conquistado o papel.
Ele foi um dos primeiros que o diretor testou e mesmo inúmeras audições depois, Connell não encontrou ninguém que tivesse mais o perfil da personagem do que o jovem.
Ao se tratar de talentos, é impossível não citar Leachman. Vencedora do Oscar por A Última Sessão de Cinema (1971), a atriz ficou com o papel que seria de Shirley MacLaine e depois recusado por diversas estrelas (ou ex-estrelas) de Hollywood que não se achavam tão velhas para viver a anciã.
Em um de seus últimos papéis nas telas (ela morreu aos 94 anos em janeiro de 2021), Leachman dá estofo a cenas e situações difíceis a que a velhice apresenta a tantos.
Por fim, entre recomeços e partidas, No Ritmo da Vida faz refletir sobre preconceitos, arte, relações familiares e o fim.
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