A questão racial que domina as discussões pelo planeta não ficará de fora em Born to Fashion, talent show brasileiro do canal a cabo E! que estreia no próximo dia 13.
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Inovador, o programa é a primeira competição de modelos produzida no País apenas com mulheres trans e travestis.
Ao todo, dez competidoras, de vários Estados brasileiros, passarão por provas, semana a semana, até que seja conhecida a vencedora.
A julgar pelo episódio de estreia, ao qual nossa reportagem foi convidada a assistir em primeira mão, o debate racial pode ser um dos tópicos que mais movimentem a atração.
Dentro da ideia de "pirâmide de opressão", uma das participantes afirmou que trans e travestis brancas têm privilégios e não precisam de tantas oportunidades.
Quando uma das competidoras se anima dizendo que, afinal, qualquer que seja a vencedora, será uma trans e isso é importante para todas, a modelo e rapper Natt Maat diz: "Depende. Se for mais uma branca ganhando, não é todas, não. Eu tô cansada dessa representatividade branca."
A mesma Natt diz em outro momento: "A comunidade trans preta se sente muito excluída da comunidade trans branca".
Dentre as concorrentes esse comportamento já incomoda. Outra participante, Luana, afirmou que Natt "racializa tudo" e que desejava a saída da oponente.
A contenda vai entrar para a coleção de polêmicas da atração. Em 2019, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o fato de o programa ter recebido autorização de captar R$ 3 milhões via Lei do Audiovisual.
Boa disputa
A top model Laís Ribeiro comanda o programa. A comparação com Tyra Banks, do America's Next Top Model, é inevitável, mas a brasileira não fica a dever.
Com um repertório um pouco maior, sobretudo nos elogios (ela abusa do "maravilhosa!!"), Laís ficaria na medida. Ela tem beleza, elegância, talento e, o mais importante para uma apresentadora, carisma.
Ficam ao seu lado a estilista Lila Colzani, o fotógrafo André Veloso e a cantora trans Alice Marcone. Convidados, como Alexandre Herchcovitch, entrarão no decorrer da temporada.
Na estreia, a equipe do reality chega a 20 nomes dentre as centenas que enviaram vídeos. Da seleção presencial, saem as 10 finalistas.
Histórias de vida - muitas delas, doloridas - foram abordadas à exaustão pelos entrevistadores. Ao que pareceu, ao menos pela edição apresentada, é que elas foram levadas em conta na hora de definir as escolhidas.
No decorrer da temporada, será importante, claro, ouvir essas histórias. É imprescindível que trans e travestis tenham voz e sejam vistas em todos os espaços, inclusive no mundo da moda, tão apegado a imagens de "barbies" perfeitas. Elas chegaram para ficar.