Homossexual e soropositivo, o cantor Silvino lançou clipe de estreia como grito contra o preconceito que afeta pessoas que vivem com o HIV.
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Parceria com o produtor e maestro Theo Cancello, Olhos Amarelos foi a maneira que o artista encontrou para lidar com a questão após descobrir ser portador do vírus em 2016.
"Foram semanas de angústia e recolhimento até saber como estava realmente a minha saúde", conta Silvino. "E neste momento eu só conseguia pensar: e minha carreira, e os meus projetos, palavras, vontades artísticas engavetadas? Eu só pensava nisso! Sem arte eu não sobrevivo. Eu não saberia fazer outra coisa."
Radicado em São Vicente, litoral de São Paulo, o cantor de 25 anos defende que a abordagem do assunto é a melhor forma de derrubar tabus. "A questão que fica é: não falarmos sobre HIV/Aids e permanecer alimentando esse monstro social prejudica só a quem vive com o vírus? A mim parece que atrasa a sociedade como um todo", explica.
Olhos Amarelos integra o EP Húmus, o primeiro da carreira do artista que compõe desde os 14 anos. "As letras falam sobre a vivência com o HIV, o repensar da vida, sobre a estrutura social que nos ignora e mata", afirma. "Fala da vivência de uma bicha afeminada que aprendeu a se amar assim. Fala sobre o amor mais profundo e ignorado por nós que é o amor por si, pelo seu corpo, cicatrizes, escolhas... É sobre seguir em frente com tudo aquilo que nos forma."
O EP, que deve estar disponível em plataformas digitais na segunda semana de maio, passeia por ritmos como funk tradicional, hip-hop, rock e samba. "Os arranjos são construídos com base na mensagem da letra, dando valor ao grito, à sensualidade, à emoção. Há identificação com a sonoridade tropicalista", explica Cancello, que foi pianista do musical Na Bagunça do teu Coração, com direção musical de Lincoln Antônio e direção-geral de Bibi Ferreira.
O clipe, dirigido por Ygor Oliveira, da produtora audiovisual Seiva, tem participação de Renata Carvalho, atriz e travesti, que ganhou destaque na cena teatral paulista ano passado com a montagem O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, na qual Jesus aparece sob a forma de uma trans. Renata encara o vídeo como "um misto de luta, resistência, coragem, empoderamento e arte".