Vários elementos de diversidade de orientação sexual e identidade de gênero estão em Império, novela das nove que reestreia nesta segunda-feira 12 na TV Globo.
Porém, como se trata de história criada por Aguinaldo Silva, não foi sem críticas que a produção passou pelos olhos da comunidade LGBT em sua exibição original, em 2014.
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A começar pelo vilão, Téo Pereira, em interpretação histriônica de Paulo Betti. A personagem, escrita para José Wilker, morto em abril daquele ano, acabou nas maõs de Betti, que carregou nas tintas.
"Quando li os primeiros capítulos e vi que o Aguinaldo Silva escrevia 'quereeeeda', percebi que era uma 'bicha louca' e fui procurar dentro de mim mesmo onde estava esse personagem", contou o ator à revista Veja, à época.
Betti disse que tentou fugir do naturalismo, trabalhando em composição mais farsesca, teatral, "cheia de gestos e revirar de olhos, rendilhado, barroco".
A reportagem apontava rejeição que críticos e usuários das redes sociais tinham com a interpretação do artista. O comentário mais comum era que ninguém é tão afetado assim e em 100% do tempo.
Então secretário de educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis discordava de boa parte dos gays.
"Eu conheço um monte [de Téo Pereira]. Não existe ser humano padrão, hétero ou gay. Somos todos diferentes um do outro. O mundo é diverso", opinou o ativista à publicação.
Téo é um jornalista que passa o dia atrás de cliques para seu blog sem se importar em arruinar reputações. Uma de suas vítimas: o empresário Cláudio Bolgari (José Mayer).
Casal gay
Eis outro ponto arco-íris da trama que também resvalou em polêmica. Casado com Beatriz (Susy Rêgo), Cláudio interessa-se pelo jovem Leonardo (Klebber Toledo), que tem idade de seu filho, Enrico (Joaquim Lopes).
Se a esposa vai da negação aos sentimentos de culpa e preconceito, é pelas mãos de Enrico que o autor discute a homofobia. Em sua melhor interpretação na TV até hoje, Joaquim deixa aflorar por palavras e olhares o ódio que parte da sociedade ainda sente pelo amor entre dois homens.
"Não é só pelo ódio, mas tem uma insegurança muito grande. Neste caso, além de demonstrar o horror que é a homofobia, o Enrico também se acha enganado", explicou o ator ao jornal O Globo na ocasião.
Não há dúvida de que Cláudio é bissexual, mas a sexualidade de seu par romântico, Leonardo, parece confusa. Apresentado ao público como gay, à certa altura da trama, o loiro. que nunca havia se interessado por mulheres, envolve-se com Amanda (Adriana Birolii).
A trajetória da personagem ainda inclui envolvimento com Val (André Gonçalves), antes dele voltar para os braços de seu amado Cláudio.
O beijo entre os dois era para ter ido ao ar na terceira semana da novela, mais especificamente em 4 de agosto. A cena foi gravada, mas jogada fora.
Oficialmente, a TV Globo afirmou que foi um consenso entre Aguinaldo e o diretor da trama, Rogério Gomes. O site Notícias da TV apurou, no entanto, que a decisão coube à cúpula da emissora que temia rejeição e protestos de telespectadores.
Em suma, na última semana da produção, em 10 de março de 2015, foi ao ar um selinho entre Cláudio e Leonardo.
Travesti ou crossdresser?
Xana Summer é uma cabeleireira espirituosa em composição irretocável de Ailton Graça, que, assim como José Mayer, experimentava papel totalmente diferente de machões que costumavam interpretar. Ponto para Aguinaldo pela escolha de ambos.
Alguns liam Xana como um gay afeminado, mas parecia claro para a maioria que Xana era uma travesti.
Três meses após a estreia, no entanto, a personagem mostrou-se ser um homem cisgênero heterossexual. As roupas e aparência feminina? Tratava-se de uma crossdresser.
A então melhor amiga da personagem, a manicure Naná (Viviane Araújo), revela-se amante de Xana.
Questionada por uma amiga, Xana tenta explicar: "Tem a ver com satisfação interior, necessidade de se vestir de mulher, sem desejar uma troca de gênero".
Crossdressing é o nome da prática para homens que se travestem de mulher. Em geral, ela é feita em ambiente privado e, em muitas vezes, em contexto erótico. Diferentemente, portanto, da arte drag queen, que tem objetivo de realizar apresentação artística.