Por Marcio Claesen
Já era o tempo em que a gente contava nos dedos de uma mão as personagens LGBT que figuravam nas séries, minisséries e novelas na TV aberta do Brasil. O ano de 2016 foi representante desses novos tempos. Houve paixões, discursos contra o preconceito, inclusão positiva da cultura arco-íris... Até o fato histórico de mostrar sexo gay!
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Entretanto, nem tudo foi assim! O ano também teve personagens dos velhos tempos, por assim dizer, com homossexuais sem desejo sexual, fáceis de serem "convertidos" ou simplesmente sem profundidade.
Apertemos o "rewind" para ver os melhores e os piores personagens LGBT na telinha nacional!
>>> Os 5 melhores
1. André e Tolentino em Liberdade, Liberdade
Ok, o final do casal foi trágico, mas não dava para esperar nada melhor pela época em que se passava a trama. Ainda asism, Liberdade, Liberdade reservou um momento histórico na TV brasileira: a primeira cena de sexo gay nas telenovelas.
O relacionamento de André (Caio Blat) e Toletino (Ricardo Pereira) foi construído aos poucos e conquistou o público que torcia pelo romance de dois homens tão antagônicos: um jovem afeminado totalmente do bem e um capitão rústico e cruel. A cena de sexo dos dois parou a internet e ganhou elogios até de famosos.
2. Beatriz e Júlia em Nada Será como Antes
A relação amoral da atriz e da milionária foi um dos pontos altos da série Nada Será como Antes. Após começar a sair com Otaviano (Daniel de Oliveira), Beatriz (Bruna Marquezine) seduz a irmã dele, Júlia (Letícia Colin), que está de casamento marcado.
Otaviano descobre o romance e os irmãos passam a dividir a atriz. A simbiose entre os irmãos é tão grande que chega quase ao incesto, em uma cena na qual Beatriz tenta provocar um beijo entre os dois. As cenas íntimas entre as duas foram bastante sensuais. Aqui, o final também é trágico. Beatriz morre e os dois sofrem sozinhos pelo amor perdido.
3. Max em Totalmente Demais
Divertidíssimo, Max foi um dos melhores personagens da bem-sucedida Totalmente Demais. O que poderia ter sido mais um gay caricato mostrou-se um ser humano real. Repleto de tiradas sarcásticas, o booker ganhou nuances nas mãos do ator Pablo Sanábio (diferente da interpretação chapada de Paulo Betti para o Téo Pereira, de Império, para ficarmos num em anos recentes).
Os autores Rosane Svartman e Paulo Halm incluíram situações dramáticas na vida do personagem, presentes nas histórias de muitos homossexuais no Brasil. Max sofreu ao ter lidar com pais homofóbicos e foi vítima de violência na saida de uma boate apenas por estar de mãos dadas com um rapaz. Seu final foi feliz como o personagem merecia, ao lado de um bonitão.
4. Lauro e Tobias em Êta Mundo Bom!
Na reta final, a trama de Walcyr Carrasco formou um casal em pleno horário das seis. O médico Lauro (Marcelo Argenta) descobre que quem cozinha os deliciosos jantares que sua namorada Emma (Maria Zilda Bethlem) prepara é Tobias (Cleiton Morais). Esse é o ponto em que ele passa a ver o alfaiate com outros olhos.
No dia de pedir a mão de Emma em casamento, Lauro conta a verdade à empresária. "Eu não sou um homem como os outros, entende?" Emma responde: "Eu entendo muito bem. É o amor que não se ousa dizer o nome", fazendo referência à famosa frase do escritor Oscar Wilde. O médico encontra Tobias na porta do café e fica claro que terminam juntos. Veja a cena aqui.
5. Janete em Supermax
Apesar de confusa e bastante criticada, a série da Globo teve ao menos um acerto: uma personagem trans vivida por uma atriz trans. Na trama, Janete (Maria Clara Spinelli) era uma ex-dona de salão de beleza e responsável pela morte do próprio pai.
Janete e Luizão (Bruno Belarmino) se envolvem em uma noite quente, com direito a muitos beijos, mas o gostosão a agride quando descobre que ela é transexual. Janete, então, revela seu passado como alvo de transfobia, conta que está no reality para conseguir dinheiro para pagar a cirurgia de redesignação sexual e faz dicurso empoderador sobre a transexualidade. Assista às cenas com a interpretação emocionante de Maria Clara aqui.
>>> Os 5 piores
1. Úrsula e Duda em A Regra do Jogo
A trama de Úrsula (Júlia Rabello) e Duda (Giselle Batista) foi confusa como são todas as tramas homossexuais de novelas de João Emanuel Carneiro. Duda se envolve com o irmão da namorada, Vavá (Marcello Novaes) aparentemente para ter um filho e por algum tempo vivem um triângulo amoroso. João Emanuel - que é casado com um ator global - não deve acreditar em amor homossexual verdadeiro já que jamais foi capaz de escrever um romance gay ou lésbico sem colocar um hétero no meio. Lamentável!
2. Colette D'Or em Ligações Perigosas
Anunciamos com animação a presença da travesti Colette D'Or na série Ligações Perigosas, no ano passado, mas as expectativas não se cumpriram. No ar, a personagem vivida por Darwin Del Fabro, apareceu em apenas duas ou três cenas e serviu como motivo para a protagonista Isabel (Patrícia Pillar) armar uma pequena vingança pela transfobia do pai de Colette (vivido por Danilo Grangheia). A história ficou solta e rasa.
3. Zelito e Wesley em A Lei do Amor
Não deu para entender o que quiseram os autores Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari com o romance de Zelito (Danilo Ferreira) e Wesley (Gil Coelho). Desde a segunda semana da novela, sabia-se que o destino do barman estava traçado quando a cartomante Mileide (Heloísa Périssé) tira a carta da morte para ele.
Ainda assim, o personagem que só iria ficar menos de dois meses na trama, demorou a engatar o romance com o mecânico, viúvo e pai de um filho. É possível que várias cenas dos dois tenham sido suprimidas, não por homofobia, mas porque a baixa audiência do folhetim fez com que todos os personagens jovens tivessem falas cortadas ou até sumissem da novela.
O resultado no ar foi uma colcha de retalhos que não deu tempo sequer de cativar o público. Zelito morreu e Wesley está avulso, sem nenhuma trama pessoal na novela. A única esperança para ele é que os autores o unam com Gledson (Raphael Ghanem), o outro gay da história, que se diz virgem e está à espera de um homem com pegada.
4. Rodolfo e Aristides em Nada Será como Antes
Com tão poucos personagens, não há desculpa para a série Nada Será como Antes ter dado tão pouca atenção ao galã enrustido Rodolfo (Alejandro Claveaux). É verdade que um dos episódios tratou de um romance seu com um aspirante a ator que arma para que eles sejam vistos juntos por um paparazzo colocando a carreira do galã em perigo. Mas foi pouco.
De resto, vimos que Aristides (Bruno Garcia), seu ex, passou toda a história ainda apaixonado pelo ator. No final, Rodolfo, meio que desiludido com os homens, envolve-se com uma fã. A moça, em breve diálogo, diz que é liberal e aceita que Rodolfo e Aristides tenham um caso (mas eles nem tinham mais nada!). Final grosseiro à la João Emanuel Carneiro.
5. Pietro em Totalmente Demais
De longe, o pior personagem LGBT do ano. Marat Descartes, intérprete de Pietro, revelou em entrevistas que não queria cair em estereótipos para viver o fiel escudeiro da vilã Carolina (Juliana Paes), mas caiu. Um viado esnobe e com adoração desmedida pela patroa foi a sua composição.
Justiça seja feita, os autores contribuíram - e muito - para tornar o personagem desagradável. Sem vida pessoal ou sexual nenhuma, Pietro passou toda a segunda metade da novela com o objetivo de ser o pai do filho de sua patroa e amiga, que a princípio queria engravidar a qualquer custo e depois adotar uma criança. Desnecessário, irreal, digno de pena.
Plus:
É válido destacar outros personagens arco-íris que passaram pela teledramaturgia, ainda que não tenham oscilado nem para um lado nem para o outro. Em Sol Nascente, Marcio Kieling vive um marchand casado com um homem (Luka Ribeiro). A trama ainda não ganhou destaque e o que conta pontos contrários é a baixa repercussão da novela como um todo, chamada de "Sol Dormente", por alguns críticos, apelido autoexplicativo.
Se Totalmente Demais teve um grande destaque positivo e outro negativo dentre os LGBT, também não faltou um que ficou no meio termo. Foi Adele (Jéssica Ellen), funcionária bissexual da agência de modelos e melhor amiga de Max. A moça teve um crush pela produtora de moda Lu (Julianne Trevisol) que não foi correspondido. Amargou capítulos sem uma história pessoal, até ganhar um final feliz indo morar com uma gatinha em São Paulo.
A quinta e última temporada de Pé na Cova foi em clima literalmente de despedida. Marília Pêra, morta em dezembro de 2015, já havia terminado de gravar a série, e foi o foco de todos os olhares para a série de humor de Miguel Falabella no início do ano. No final, Odete Roitman (Luma Costa), que teve romances héteros, terminou feliz ao lado de Tamanco (Mart'nália) na Flórida e Markassa (Maurício Xavier) com um boy magia em Oslo, na Noruega.