Roberta Miranda revela que apanhava do pai por gostar de mulher

Em livro, cantora também disse que prometeu no leite de morte da mãe nunca revelar ser homossexual

Publicado em 22/12/2024
Roberta Miranda fala sobre paixão lésbica
Roberta e o 'filho' Severino

A cantora Roberta Miranda revelou que sofreu por ter família homofóbica quando se apaixonou pela primeira vez por uma mulher, que apanhava do pai e que chegou a engravidar de um amigo para provar à mãe que não era homossexual.

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"A rejeição de minha mãe, porém, ficou marcada com muita força em mim. Tanto que prometi para ela, no seu leito de morte, que nunca revelaria minha sexualidade", conta a artista de 68 anos na autobiografia recém-lançada Um Lugar Todinho Meu.

"Naquela época, tudo era muito escondido, carreiras eram destruídas por conta de escândalos sexuais. Sim, porque ser gay era um escândalo, e, se hoje ainda somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+, há 40 anos ainda era bem mais perigoso", relembra. 

"Fora a vergonha que gerava nas famílias católicas e na sociedade em geral. Sofri muito e precisei de anos e anos de análise e apoio de pessoas próximas para entender que podia, sim, falar disso sem trair a promessa feita a minha mãe."

Roberta, que é abertamente bissexual, acredita que a mãe a abençoaria hoje.

"Os tempos mudaram e, se quero contar minha verdade neste livro, não posso esconder uma parte importante de quem sou. E tenho certeza de que minha mãe, lá de cima, está abençoando minha decisão de dividir antigos segredos com os fãs, que tanto me apoiam, e merecem me conhecer por inteiro."

No livro, a cantora revela que sua primeira paixão foi pela amiga Vanda. Ainda adolescente, Roberta tinha um namorado que não tinha permissão para frequentar sua casa, mas gostava mesmo era da amiga que dormia em sua casa. Aos poucos, percebeu que seu pai estava também interessado em Vanda.

"Essa era a época em que ele me batia, eu fugia, ele se arrependia e eu voltava. Logo eu estava na rua, e tempos depois a ida para Campo Grande funcionou na minha cabeça como um distanciamento para que ele ficasse à vontade para se relacionar com ela", lembra-se.

"Esse era o tanto que eu o amava, mas também mostra a falta de noção que eu, sendo vítima como tantas outras de familiares abusivos, tinha do absurdo que era um adulto ter interesse em uma menina, da idade da filha dele. Anos depois, perguntei a Vanda se ela tinha tido algo com meu pai e ela negou."

A cantora prossegue: "Esse amor por outra menina foi mais um motivo de crise na família. Minha mãe ficou doente e me culpou, dizendo que Deus a estava punindo por minha safadeza. Meu pai ficou ainda mais agressivo, não sei se por saber que eu gostava de menina ou se o problema era ser a mesma por quem ele estava interessado."

"Mesmo eu já fora de casa, era um inferno a mais na minha vida, que já estava bem turbulenta sem nada disso. Nesse aspecto a mudança para o Mato Grosso foi providencial." 

"Quando voltei para São Paulo, (...) conversei com minha mãe, com o firme propósito de negar que eu fosse homossexual, e convencê-la de tudo não tinha passado de uma paixão platônica, já superada. Ela não quis saber: disse que eu envergonhava a família e que isso era nojento. A partir daí, toda a família, com exceção do meu irmão José, ficou em cima de mim, me tratando ainda mais duramente."

"A pressão foi tanta que não aguentei e resolvi propor a um amigo que a gente transasse, com a ilusão de que com isso acalmaria os ânimos dos Miranda. Ele era amigo mesmo, sem segundas intenções, então tomamos um porre (sim, eu que odeio bebida precisei tomar coragem) para encaramos a tarefa. Três meses depois, me descubro grávida novamente. E, mais uma vez, minha mãe se enfureceu, preocupada com a falta total de estrutura para criar uma criança. Tive um aborto espontâneo."


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