Estudo não encontra assassinato de homens trans no Brasil em 2020

Levantamento da Antra registrou 175 crimes contra mulheres trans e travestis, mas nenhum contra pessoas de identidade masculina

Publicado em 09/02/2021
homens trans assassinatos 2020 antra dossiê
Ativista não comemora fato e afirma haver tentativa organizada de apagar homens trans. Foto: Depositphotos

Ponto fulcral no debate da cidadania trans no Brasil, o assassinato de pessoas do segmento tem aspecto pouco abordado: não houve nenhum registro de homicídio de homens trans em 2020.

Curta o Guia Gay BH no Facebook

Todos os 175 crimes catalogados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) no seu relatório divulgado em 29 de janeiro foram contra travestis e mulheres trans. 

O fato é tão marcante que o próprio levantamento usa palavra no feminino no título: Dossiê Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2020

A inexistência de assassinatos de pessoas de identidade masculina registrados é abordada e justificada no documento.

Mais
>>> Depois de dois anos de queda, assassinato de trans sobe no Brasil 

Para a entidade, todas mortes serem de pessoas de identidade feminina evidencia o quanto os crimes teriam como pano de fundo o gênero. 

"É nítido que a motivação tem relação direta com a identidade de gênero (feminino) expressa pelas vítimas. No caso de pessoas cisgêneras, conforme exposto no Atlas da Violência, a maioria dos assassinados pertencem ao gênero masculino, enquanto pessoas trans, a maioria são do gênero feminino", continua o estudo.

A Antra deixa marcado que há cenário de subnotificação de assassinatos no trabalho realizado. O estudo não traz relação de nomes, datas específicas e circunstâncias de cada assassinato listado. 

Nossa reportagem procurou entidades de homens trans para saber se haver nenhum registro de assassinatos de homens trans é algo a ser comemorado. 

O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrati), maior coletivo de homens trans do País, afirmou que não comentaria por estar em reorganização interna. 

O coordenador do Núcleo de Transmasculinidades da Rede Família Stronger, Luiz Fernando Prado Uchoa, não acha positivo não haver registro em 2020 e fez série de críticas. 

"Tenho vários poréns em relação ao relatório da Antra. Por mais boa intenção que as pessoas tenham, é notícia de jornal, é notícia que chega a elas. Eu sei que lidar com dados absolutos, você precisa ter universo muito maior. Há subnotificação. Homem trans muitas vezes é registrado como lésbica."

E vai além. "Há entidades de travestis e mulheres trans que tentam invisibilizar homens trans na vida e na morte. É um projeto delas tirar a visibilidade de homens trans. Por isso, não há o menor interesse delas em buscar coisas que tratem de nós."


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
© Todos direitos reservados à Guiya Editora. Vedada a reprodução e/ou publicação parcial ou integral do conteúdo de qualquer área do site sem autorização.