Uma dupla de golpistas está tocando o terror no Espírito Santo e Minas Gerais por meio do aplicativo de encontros Grindr.
Um deles conversa com homens gays e bissexuais e no momento do encontro diz que é garoto de programa, exige dinheiro, rouba e quebra bens, além de bater nas vítimas. O outro dá suporte para tirá-lo do local o mais depressa possível.
À Folha Vitória, um morador da zona norte da capital capixaba relatou o que ocorreu com ele na manhã de 16 de fevereiro.
"Ele, que se identifica na plataforma como Keven, quando entrou na minha casa, após a gente ficar, disse que só me beijaria se eu pagasse R$ 100. Eu achei aquilo estranho já que não se tratava de um encontro, um date casual, nada envolvendo pagamento", contou o servidor público federal de 31 anos que pediu para não ser identificado.
"Foi aí que ele falou que era garoto de programa. Eu disse que não iria pagar nada já que não havia nada disso no perfil dele e o aplicativo não é feito para isso. Ele então começou a me ameaçar, dizendo que iria chamar a polícia por eu não querer pagar."
O servidor acredita que neste momento o golpista chamou o comparsa ao fazer uma ligação.
"Aí, continuou com o teatro. Ele dizia que não iria sair sem receber pelo serviço. Foi então que eu resolvi ligar para a polícia. A reação dele mudou completamente e partiu para cima de mim e tirou o meu telefone", relembra.
Em meio à discussão, o suspeito foi ao quarto da vítima, pegou seu notebook e o arremessou ao chão.
Com o comparsa esperando no portão, o homem pegou o celular do servidor e se dirigiu à porta.
"Eu fiquei desesperado, peguei o note e passei a segui-lo. Ele tava carregando o meu telefone. Eu discuti com ele, ele me bateu, me empurrou pelo pescoço. Fui seguindo os dois pela rua e disse que iria pagar o que eles queriam, que daria R$ 500 mas precisava do celular para fazer a transferência. Dei a entender que iria entrar no golpe."
"Foi então que eles me deram o telefone, eu transferi o dinheiro para um amigo e disse que eu teria que esperar que ele me devolvesse a quantia para fazer o pagamento aos dois criminosos. Eles começaram a me bater, a me chutar, terminaram de quebrar o note e fugiram", relatou.
A polícia chegou depois de 25 minutos e disse que nada poderia fazer e indicou que o servidor fosse à delegacia registrar um boletim de ocorrência.
Lá, houve descaso e discurso moralista. "Eram duas mulheres. Uma começou a ouvir meu relato, mas teve que sair. A outra que a substituiu me perguntou se eu tinha certeza se queria continuar com aquele boletim porque não daria nada. E outra: me disse que o que tinha acontecido comigo que me servisse de lição, me dando lição de moral por utilizar um aplicativo. Um tipo de moralismo barato, totalmente inadequado. Sou uma vítima, antes de mais nada."
O rapaz descobriu relatos parecidos com o seu, encontrou outros perfis do golpista e passou à polícia para ajudar nas investigações.
Em Vila Velha (na Região Metropolitana de Vitória), dois dias depois do roubo, outro homem foi vítima das mesmas pessoas.
O homem, que tem esposa e filhos e pediu anonimato, marcou com o golpista em um motel.
Após alguns minutos, o suspeito procedeu da mesma forma: anunciou que era prostituto e exigiu dinheiro. Com medo de sua bissexualidade ser exposta, a vítima fez transferência, via pix, de R$ 300.
Na mesma tarde, um assistente administrativo de 28 anos, recebeu o golpista em sua casa, mas desta vez foi o suspeito quem apanhou.
"Eu queria um encontro para espairecer de um dia estressante no trabalho, ainda mais sendo uma sexta-feira. Eu o convidei pelo Grindr por estar próximo da minha residência. Ele apareceu e a gente começou a namorar. Aí, ele começou esse golpe dizendo que era garoto de programa e me ameaçou. A gente fica sem chão, se sente desprotegido, totalmente vulnerável", diz.
Ele fez transferência de R$ 200, mas o golpista reclamou, dizendo que não havia recebido. "Eu acho que era tudo teatro para ele querer mais. Eu estava chorando, desesperado, falando para ele que já tinha feito tudo o que ele queria e que ele saísse da minha casa. Foi aí que ele disse iria quebrar tudo no meu apartamento", descreve.
"Eu era mais forte que ele porque ele era franzino. Quando ele ameaçou arremessar uma garrafa de bebida na minha smart TV, eu fui pra cima dele e consegui dominá-lo. Agarrei ele pelo pescoço e o joguei no sofá. Ele não esperava aquela reação. Saiu correndo da minha casa. Eu vi que ele se encontrou com um outro sujeito na porta do prédio. Estava furioso. Falou que iria voltar e me matar."
A vítima fez boletim de ocorrência em Vila Velha. Para tentar reaver o dinheiro, fez contato com o número de telefone, com prefixo de Minas Gerais.
"A mulher que me atendeu, com certeza, deve ser outra comparsa porque disse que não tem acesso à conta bancária e que, por isso, não teria como devolver a quantia", contou. Ele tentou contato novamente mas a responsável pelo número o bloqueou.
Dentre vítimas que apareceram após os relatos nas redes também estão homens de Minas.
Um morador de BH transferiu R$ 250 para o golpista em setembro passado.
"Eu deletei tudo o que eu tinha dele (contato de telefone, comprovante do pix). Tive crise de pânico por algumas semanas. Ficava em casa sozinho e eu ficava com receio de ele voltar", disse a vítima que não fez registro na polícia.
A polícia afirma que os casos estão sendo investigados.