Reportagem mostra bastidores de sexo gay com motoristas de Uber

Letra para sexo oral e olhares são códigos usados para corridas sem pudor algum

Publicado em 02/07/2022
Motoristas do Uber aceitam propostas para transar com passageiros
Maioria dos programas são gays, diz reportagem. Foto ilustrativa

A prática de aceitar dinheiro do passageiro para fazer sexo não é nada incomum dentre motoristas que dirigem carros por aplicativos.

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Ao menos foi o que revelou a Folha de S.Paulo após passar três semanas conversando com profissionais que prestam serviços para Uber, 99 e InDriver na capital paulista.

Na maioria dos casos, tanto motoristas quanto passageiros são do sexo masculino. A reportagem encontrou raros exemplos em que os condutores receberam oferta de mulheres para pagar a corrida em troca de sexo.

A letra "B" - referência à palavra "boquete" - é um dos códigos que ambos - passageiro e motorista - trocam pelo chat da plataforma para dar intenção de atividade sexual antes mesmo da corrida começar.

A inicial foi um meio que homens interessados em transar com o condutor encontraram para burlar regras dos aplicativos, que punem quem escreve termos considerados pornográficos.

Mas a interação pode começar também por meio de troca de olhares pelo retrovisor, gestos e perguntas.

Na sequência, ambos combinam o que será feito - sexo oral, masturbação, sexo anal - e o valor. O programa às vezes é realizado com o veículo em movimento. Em outras situações, o motorista encosta o carro ou se dirige a um motel (pago pelo cliente) ou até mesmo à casa do passageiro.

A reportagem falou com Felipe (nome fictício), de 31 anos, que há quatro anos faz programas com passageiros. 

Ele ganhava R$ 100 por noite trabalhando como barman em São Paulo. Decidiu virar motorista para aumentar o rendimento e sempre foi assediado por quem entrava no veículo.

Até que um dia uma pessoa ofereceu R$ 150 para fazer sexo oral nele - o valor era metade do que ele ganhava por dia dirigindo. A primeira coisa que pensou ao receber a oferta foi que poderia completar o tanque de gasolina.

Felipe diz que nunca foi alvo de golpe ou roubo, mas que já foi flagrado pelo segurança de um estacionamento na Vila Mariana, zona sul da cidade, enquanto recebia sexo oral. O guarda não chamou a polícia.

O motorista diz que em geral as relações são sem preservativos e que se previne apenas tomando a Prep (profilaxia pré-exposição ao vírus HIV que consiste na ingestão diária de um medicamento).

Uma tática usada por Felipe é estacionar o carro próximo a saunas e boates gays e puxar, discretamente, conversa durante a corrida.

Outro motorista, Marcelo, de 22 anos, revelou já ter tido sexo com cerca de 50 passageiros, desde que começou nesta função há dois anos. Em algumas ocasiões, ele não cobrou.

Marcelo pede de R$ 50 a R$ 150, mas já chegou a receber R$ 200 por um programa - o mesmo valor que ele tira dirigindo o dia todo. O pagamento pode ser feito em dinheiro ou Pix.

Ele contou que já havia ouvido de outros condutores histórias sobre sexo com passageiros e se surpreendeu na primeira vez em que foi abordado. Naquele dia, o homem começou a tocá-lo enquanto Marcelo dirigia. Ele parou o veículo e os dois transaram antes do fim da corrida.

Marcelo diz que não usa o chat com medo de produzir provas contra si próprio e espera sempre a abordagem vir pessoalmente do passageiro.

Desde a elevação do preço da gasolina, em dezembro, ele fala que aumentou o número de programas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula em R$ 1.900 o ganho médio por mês de um motorista por aplicativo no País.

A reportagem informa que além das corridas, os motoristas também têm procurado clientes em apps como Grindr. Ali, eles combinam o valor e o destino, como se se tratasse de uma viagem particular e o sexo está incluso no pacote.

Prostituição não é crime no Brasil, mas fazer sexo em local público pode render pena de três meses a um ano de prisão, que pode ser revertida a pagamento de cestas básicas ou serviços prestados à comunidade.

À Folha, a Uber informou, em nota, que de acordo com seus códigos de conduta, "qualquer comportamento que envolva violência, conduta sexual, assédio ou discriminação ao usar o aplicativo resultará na desativação da conta". A 99 não quis se manifestar e a InDriver não retornou o contato.

A Associação de Motoristas por Aplicativo de São Paulo (Amasp) disse que os casos formam uma prática isolada.

"A gente não tem como atribuir [ao aumento dos combustíveis ou taxas de apps] porque está todo mundo trabalhando, fazendo um dinheirinho ali. Então, a gente acredita que, dentro da classe, exista aquele tipo de pessoa que se propõe a isso", disse o presidente de Amasp, Eduardo Lima de Sousa, à publicação.

 

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