A política tem novos caminhos. E nova indumentária, por que não? Essa outra forma de "politicar" é proposta de Ed Marte, 52 anos, pessoa não-binária, pansexual, e uma das mais conhecidas personalidades da cultura e do universo arco-íris de BH.
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Caso sua candidatura pelo Psol transforme-se em vaga na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), a promessa é fazer mandato com foco em educação e, como não poderia deixar de ser, cultura.
Na campanha, Ed aparece até de maiô em fonte d'água. Sua intenção é quebrar padrões. Seu trabalho agora é garantir quatro anos dessas reviravoltas conceituais na tribuna do legislativo municipal.
Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
Nosso mandato trabalhará com vários eixos de luta, sendo a cultura um de seus principais. Queremos pautar editais específicos para identificar, incentivar e valorizar os movimentos culturais LGBTQIA+ da cidade, assim como ocupar os espaços culturais da cidade já existentes com produções artísticas específicas dessas identidades.
Outro eixo de luta se refere à garantia do acesso e permanência de pessoas LGBTQIA+ dentro do sistema educacional, e, para isto, lutaremos junto a movimentos sociais para que tenhamos uma legislação que assegure e legitime o trabalho de professoras/es com os debates sobre gênero e sexualidade.
Não será um trabalho de imposição, mas de muito diálogo com as famílias e com as gestões escolares.
É uma construção que precisa de todas as pessoas envolvidas na educação. Ao mesmo passo que queremos garantir o direito a moradia para as pessoas LGBTQIA+, e em um primeiro momento nossa luta será para que tenhamos um abrigo específico para as pessoas LGBTQIA+.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Psol. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Todas as candidaturas estão comprometidas com a construção de uma sociedade antiracista e antilgbtfóbica. São eixos principais que nos sintonizam a estarmos juntes dentro do Psol. Sou da Movimentação Muitas dentro do Psol, que tem como princípio várias pautas e tem um programa voltado para as pessoas LGBTIQ.
Nós criamos a Gabinetona, um mandato aberto e participativo com vários corpos de luta e movimentos sociais da cidade. É uma nova forma de se fazer política e de garantirmos que nossas lutas ocupem a Câmara Municipal.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de BH?
Nossa candidatura preza pelo respeito aos direitos humanos e pela política que respeite e valorize as diversidades. Sendo assim, nossas pautas se relacionam com os serviços públicos que as diversidades utilizam, sejam elas LGBTQIA+ ou não, por exemplo, a melhoria do transporte público na cidade, o atendimento dentro do sistema de saúde gerido pelo municipío, o acesso à educação e o direito à cidade.
Você é uma das poucas pessoas de gênero não-binário candidatas no Brasil. Que importância atribui a esse fato?
Os corpos trans e corpos que fogem às normativas de gênero, tais como as pessoas não-binárias, são invisibilizados e silenciados. Uma candidatura de uma pessoa não-binária ocupando a TV, ocupando as redes sociais, as ruas, abre a possibilidade de que as pessoas possam conhecer essas identidades.
Eu sempre digo, ganhar as eleições e ocupar a Câmara Municipal é extremamente importante, mas queremos muito mais, queremos que a população tenha oportunidade de conhecer que é possível um corpo não-binário pensar sobre a cidade, decidir sobre o futuro que queremos construir para uma nova BH mais diversa.
Meu corpo não é visto por muitas pessoas como alguém que possa ocupar a política, mas eu estar nas suas redes sociais, na TV da sua casa falando sobre a minha candidatura, estar presente é uma possibilidade de mostrar que existimos e lutamos por essa existência, além de que podemos inspirar outras pessoas a serem livres.
Você faz campanha muito irreverente, chega a se mostrar de maiô em uma fonte d’água. Qual seu objetivo ao optar por se mostrar ao eleitorado dessa forma?
A política apresentada com terno e gravata tem um objetivo de reproduzir o patriarcado dentro dos espaços de poder.
Acredito que as lutas políticas podem ser feitas com afeto, festa e alegria, uma nova forma de fazer política, chamando atenção de pessoas que não se sentem representadas pelo terno e gravata.
Mostrar meu corpo ao eleitorado de uma forma que quebre a sua expectativa e que ao mesmo tempo faça um convite para repensar sobre as normas sociais que impomos é uma forma de construir novas políticas.
Os corpos dissidentes de gênero são livres para ocupar os espaços públicos da cidade e o poder público precisa garantir a segurança e proteção à vida desses corpos.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay BH de entrevistar todas candidaturas LGBT à Câmara Municipal de BH.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.