Morreu na manhã desta quarta-feira 14 a ativista travesti Anyky Lima. Ela tinha 65 anos e lutava contra um câncer.
Anyky foi presidente do Cellos-MG, entidade que realiza a Parada do Orgulho LGBT de BH, integrou o Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa) e Associação de Travestis e Transexuais de BH.
Ao jornal O Tempo, em 2011, ela falou sobre a sua luta por cidadania.
"Hoje em dia, eu não sofro mais discriminação, pois passo em qualquer lugar como uma senhora. Mas eu não faço política para mim, faço política para todos."
Nascida no Rio de Janeiro, desde criança, Anyky gritava que não era menino, mas, sim, uma menina. Ao Projeto Colabora, ela contou que usava batom, brincos e deixava o cabelo crescer. Para os pais, nascidos no interior de Pernambuco, seu comportamento era inaceitável.
Foi expulsa de casa aos 12 anos e pegou carona para Vitória (ES), onde ficou pelos seis anos seguintes e foi lá que se iniciou na prostituição.
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Já com hormônios e silicone industrial (prática comum na época), Anyky retornou ao Rio junto a um ex-namorado.
Foi presa diversas vezes e disse que só não apanhou mais porque era branca. "Policiais me tirava da cela de madrugada para ter relação sexual comigo, enquanto batiam em uma travesti negra só pelo prazer", recordou.
Com 30 anos mudou-se para Minas Gerais e continuou na prostituição até os 50 anos quando passou a se dedicar ao ramo da costura por prazer.
Foi em terras mineiras que a veia ativista da travesti tomou forma e ela mesma ajudou a dar corpo ao movimento trans do Estado.
Em nota, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) lamentou o falecimento da ativista, a quem chamou carinhosamente de Vó Anyky, e lembra que ela "deixou um legado para as novas gerações e um exemplo de que a luta vale a pena".
Primeira pessoa transexual eleita em Belo Horizonte, a vereadora Duda Salabert (PDT) destacou o papel "relevante e ímpar no movimento nacional de travestis e transexuais" de Anyky em post em suas redes sociais.
Com grande tristeza, recebi a notícia do falecimento da Anyky Lima, travesti que tem um papel relevante e ímpar no Movimento nacional de travestis e transexuais. A história de Anyky está eternizada no movimento lgbt. Perdemos uma grande defensora dos direitos humanos.
— Duda Salabert ? (@DudaSalabert) April 14, 2021